quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

14 a 30;


Sigo a passos lentos, vagarosa sou metódica. Limpo os cantos, semblante vívido, acordo o dia.

Fazia frio ao engolir tanto café. Transpirava o tempo perdido, a canção inabalável, o sono inquieto. Desejou ter menos idade, catorze. Percorreu mundos ao entreolhar um abraço adolescente. As marcas intangíveis faziam de cada minúcia o sustento perquirido, sílaba não pronunciada. Como pudera deixar cinzas moverem tanto sentimento? Gesticulava para o espelho tentando encontrar o rosto perdido entre mil faces construídas, encontrou o último cigarro. Baforou por instantes, estava completa. As vestes sólidas sorriam seu olhar mundano, dinheiro limpo, fumaça suja. As chaves abririam seus caminhos tortuosos em um filme estático da vida, quis estar longe. E mais perto ainda se achou. Foi então que as entrelinhas fizeram sentido, apagara-se o cigarro. Estivera aturdida por tamanha ilusão, seu livro de cabeceira ganhara pó de semanas. Mal degradado. Acordou em meio ao caos interior, aos catorze?Eram quase trinta e o coração veiculava o jornal de ontem, manchetes antigas do sonho esquecido. O medo a consumia, goles secos de bebida amanhecida. Entristeceu os papéis com saudades imersas. Valorosa cura? A festa cintilava a plenos pulmões, o relógio estagnado na meia noite. Onde estava? Esquecera o tanto para estar distante, se viu em totalidade imaculada. O amargo sustentava seu paladar a socorrer lembranças pueris. Os antigos, os catorze.

Chego e sou temerosa, amor a quem? Deixo a mim para em mim retornar.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Tiros

Fuga em tiroteio busco esteio, estou no meio.

O calibre diante do pensamento verte o único algoz, a estranha sutileza. Suas pálpebras desenhavam um rosto amanhecido, um basta sem revide. Continuou a escovar os dentes, a música desconhecida tomava dimensões apocalípticas. Denotava a ira, a fúria, o som da mais desoladora verdade. Fechou a pasta com as letras antes balbuciadas, dedilhou versos sem rima e sem direção. O telefone mudo, a boca seca, a eterna volta. Fios com traças percorriam o que viera a chamar de corpo, desvaneceu em lirismos bucólicos. A resposta tênue configurava o retorno do consciente. Com as mãos atadas por cordas imaginárias trouxe à tona a detenção de ideias, de sonhos, de ingenuidade. Expeliu o troco na pia matinal.

Sussurros eram breves e infames, dei-me então o poder de aniquilar. Conquistou sua soberania, esteve longe; inferno. Olhou a silenciar balas talhadas em órgãos vitais, entreabriu sorriso para o espelho. E agora, sem jeito, sobra tempo para o por um pouco. No meio da rua grito palavra minha sobreposta por tantos batimentos; sou espalhada. O vago promissor é a inércia da realidade.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Arquivo, morto.

Perambulando pela casa vazia, senti completude em meio ao caos e ao calor. Tantas lembranças. O livro tornara-se mais intenso, as palavras corriam soltas, o vocabulário entre meus lábios era fácil de pronunciar. O antes triste armário tomou lugar de cores sólidas, o brio fino do meu contentamento. Pusera-me a pensar, talvez, o porquê de tal sentimento. Arquivo morto. Havia deixado em arquivo morto o que poderia ter deixado há muito sofrido, o lamento antes estagnado na garganta, o sofrimento atônito no contexto desconexo. Já não lembrava realidade diferente, foi-se o tempo. Para estar sempre presente, dentro e por dentro, de uma intensidade infinita, eis a imensidão. Sou realidade desgarrada do lamento, dança do momento, perto constante. Sorrio olhares, esqueço semblantes frios. O quente traz-me conforto, o morto me alimenta de vida, do que antes fora sem fim, para hoje ser eterno. Arquivo, morto.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Inconsciente

Para a consciência, tinha total segurança dos valores para os entes destinados. Dentro da massa que se desacomodava em dada cadeira estava subjugada ao cárcere. Eram sombras sobrevoando seus poros com demanda de ficção e realidade, ininterruptamente sabia onde havia enterrado, porém, tinha as pálpebras cobertas em linhas fechadas. Seu frio inoculava sobrevivência ao gritar com sangue ' me tire daqui!'; sofria o tempo e permanecia na dor.

Tórrida sucumbia, haveria, poderia, estaria. Sorriu. O veneno corrosivo pingava entre seus dentes, lamentou ter apenas duas horas. Fez voz de sono, bocejou três palavras. A face era fétida de se tocar. Os cabelos cobriam o mundo pérfido que costumava manter com boca seca. Pediu vodka. As paredes do inóspito hotel latejavam infelizes sobre suas mãos e ele entrou. A juventude tomada de saudade respirava na estampa de sua camiseta suja, seu gesticular lamentava os meus mais ínfimos desejos. Pedi que contasse sobre o ocorrido. Jamais voltaria do passado, com permissão esqueceu o que eu havia lhe dito. Bebericou o que restara da vodka, despiu a antiga casa. Desci as escadas para ver no térreo o passear das lembranças. Tornara-se inconsciente.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O ano que não tem passado

Parece que foi ano passado, os móveis na sala contornavam as minhas imagens inconscientes onde o conflito havia se instalado. E abri a porta sutilmente, vestia cinza naquele instante. Doença mal curada. Segui com os olhos as figuras-fundo, seu corpo estava vazio. Estradas a velocidades subumanas, fui despejar o sobressalto em seu olhar. Fiz-me triste. O lamento não rimou. Com plenitude envolvi para ser profunda, ignorei para ter presente. Fora um erro? Os papéis avulsos misturavam minhas frases em composições não lineares. Foi então que, mais do que o curativo, havia a ferida. A minha despedida? De tudo e de um todo, nuvens apagaram o céu em um velho sábado. Ano passado?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

traços borrados

O amarelo e o preto se tornavam constantes em cada gesticular; poeira cinza em vozes mútuas. Permiti-me finitude, suspirei o tempo, sequer desejei. A bebida tornara amigos todos ao redor; sumi em tom melancólico por dentro. Já não há dia. Dia não há. Botas calçam sua poesia, para enfim sorrir os traços borrados. Sons de verão. Era outono e mal sabia quantos momentos foram suprimidos. Estou entre o antes e o depois.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

aqui

E por falar em palavras, as tenho aqui em minhas ternas mãos. Para fugir em loucura infinita, estou plena e magnífica; faz sombra em meu olhar. O perto era demais e colocava os vestidos dentro do armário, o rouge do batom estremecia em sílabas involuntárias molhando os lábios cinza; preto forte em uns olhos vagos. Aonde fora com seus aforismos? Sou profundidade infame, deram-me nome e sobrenome. De letras componho o vão interno, distenção em minha perna, corri tanto que me perdi? O sorriso perene estancou a face com dureza em pequenos símbolos. Roia feito sapato apertado, estrago feito, desmontado; desfeito? Uma substância inodora, o pleno e o insensato estavam desatentos dentro de uma caixa sob a cama. Tomei a poção, o antídoto, sou perfeita então? Todos os dias são infinitos. Acordo e a pílula me dá náuseas, o café queima. Queimo os versos que fiz para uma ausente resposta que não encontrei. E por falar em palavras, as tenho aqui em minha mente. Poderia você as auscultar?

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Quem sou eu

Intensidade e densidade,aos olhos da vida me refaço. De esforço e igual cansaço, plena estou em recomeços. O começo do finito com horizontes, o som da voz interior.Viva,estou.